Última atualização em 28 de setembro de 2024 Jornalista RenatoGlobol
Amish, MST e Quakers — Um Comparativo sobre Viver em Grupo e a Criação de Novos Modos de Vida
Em tempos onde o individualismo e a busca pela realização pessoal são predominantes, ainda há grupos que desafiam essa corrente e provam que é possível, e até desejável, viver de forma coletiva. Dentre esses, os Amish, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e os Quakers são exemplos significativos de como a vida em grupo, sustentada por valores comuns e o trabalho comunitário, pode proporcionar não apenas uma existência digna, mas também uma felicidade duradoura e, em muitos casos, sucesso.
Esses grupos, apesar de suas diferenças culturais e geográficas, compartilham uma ideia central: a força do coletivo. A união de pessoas em torno de objetivos comuns não apenas possibilita a sobrevivência em um mundo adverso, mas também a criação de uma vida próspera, solidária e em harmonia com o meio ambiente. Vamos explorar as características desses três movimentos e como eles oferecem alternativas viáveis para quem busca criar ou se inserir em uma comunidade, alcançar felicidade e, quem sabe, ter sucesso dentro de uma lógica que valoriza o coletivo acima do individual.
Os Amish: Vida Simples e Independência Coletiva
Um Estilo de Vida Autêntico
Os Amish, um grupo cristão anabatista, são conhecidos por seu estilo de vida simples, muitas vezes rejeitando a tecnologia moderna e vivendo de forma isolada do mundo exterior. Suas raízes estão no século XVII, em uma reforma dentro do movimento menonita, e eles se estabeleceram, principalmente, nos Estados Unidos e Canadá. Com forte ênfase na fé, trabalho árduo e comunidade, os Amish seguem um estilo de vida que poderia ser visto como anacrônico, mas que tem se mostrado incrivelmente resiliente e autossustentável ao longo dos séculos.
A vida dos Amish gira em torno da comunidade. Suas fazendas são, em sua maioria, de pequena escala, e cada família é responsável por sustentar a si mesma, enquanto colabora com os vizinhos em tempos de necessidade. A agricultura e o artesanato são as principais formas de subsistência, e a ausência de tecnologia moderna em muitas áreas (como eletricidade, carros e internet) reforça os laços pessoais e a colaboração mútua. As decisões importantes são tomadas de forma coletiva, com a voz da comunidade sendo essencial em questões que afetam todos.
Benefícios do Estilo de Vida Amish
Esse modo de vida tem várias vantagens que nos fazem refletir sobre o modelo de vida individualista contemporâneo. Ao dependerem da comunidade e evitarem o consumismo exacerbado, os Amish mantêm um equilíbrio notável entre o trabalho e a vida familiar. A saúde mental também tende a ser preservada, pois o estresse causado pela competitividade social e profissional é substituído pela satisfação de pertencer a uma comunidade solidária, que cuida de seus membros em todas as fases da vida.
A resiliência econômica é outro ponto forte. Mesmo sem adotarem tecnologias agrícolas modernas, os Amish conseguem se sustentar com seus pequenos lotes de terra. Além disso, sua fama como excelentes artesãos e produtores de alimentos orgânicos os torna competitivos no mercado moderno, mesmo rejeitando o estilo de vida urbano. Portanto, será que não temos algo a aprender com eles sobre simplicidade e a busca por uma vida com propósito?
Sucesso e Felicidade
Embora, à primeira vista, a vida Amish possa parecer limitada, os índices de felicidade e contentamento entre eles são elevados. O senso de propósito coletivo, o valor do trabalho em comunidade e a profunda conexão com a terra e com a fé tornam sua vida significativa. A ideia de sucesso para os Amish não está ligada à riqueza material, mas à capacidade de viver de forma simples e digna, com uma comunidade de apoio ao redor.
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST): A Luta pela Terra e a Construção de Comunidades Sustentáveis
Um Movimento de Resistência
O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), surgido no Brasil na década de 1980, luta pelo direito à terra e busca garantir uma vida digna para aqueles que foram excluídos dos benefícios do desenvolvimento agrário e urbano. Ao contrário dos Amish, que optaram pela simplicidade por motivos religiosos e culturais, os membros do MST se viram obrigados a construir um novo modo de vida em resposta à exclusão social e econômica.
A organização do MST é baseada em princípios de solidariedade, democracia interna e autossustentabilidade. As ocupações de terra não são apenas um ato de resistência, mas uma forma de garantir a sobrevivência daqueles que foram marginalizados pela sociedade. Após a conquista da terra, os assentamentos são organizados de forma a garantir a produção de alimentos para subsistência, além de criar uma rede de suporte mútua entre os assentados.
Educação e Sustentabilidade
A educação e a formação política são também elementos fundamentais dentro do MST. O movimento acredita na emancipação do indivíduo por meio da educação, promovendo desde escolas comunitárias até universidades populares dentro dos assentamentos. Há uma forte preocupação com a sustentabilidade, e muitas das comunidades do MST adotam práticas agroecológicas, sem o uso de agrotóxicos, garantindo uma produção de alimentos saudáveis tanto para consumo interno quanto para comercialização.
O MST tem mostrado que é possível transformar o uso da terra em algo benéfico para todos. Ao contrário do modelo tradicional de agronegócio, que muitas vezes favorece grandes latifundiários e degrada o meio ambiente, os assentados do MST têm se destacado na preservação da natureza e na produção de alimentos livres de venenos. Além disso, o MST promove a inclusão social e a recuperação da autoestima de pessoas que, historicamente, foram deixadas à margem da sociedade.
O Impacto do Coletivo
Para os membros do MST, o sucesso vai além da simples posse da terra. É sobre a capacidade de construir uma nova sociedade, onde a solidariedade e o respeito ao meio ambiente prevalecem. Em um contexto de extrema desigualdade, a existência do MST é um exemplo vivo de que é possível formar comunidades autossustentáveis e que, mesmo em condições adversas, é possível alcançar a felicidade por meio da colaboração, da justiça social e do trabalho coletivo.
Quakers: Fé e Ação Comunitária
A Espiritualidade Quaker
Os Quakers (ou Sociedade Religiosa dos Amigos) são um grupo cristão pacifista que surgiu na Inglaterra no século XVII. Ao contrário dos Amish e do MST, os Quakers não vivem de forma isolada, mas estão amplamente integrados na sociedade contemporânea, mantendo, no entanto, uma forte ética comunitária e uma postura de rejeição à violência, discriminação e exploração.
Os Quakers são conhecidos por sua organização horizontal e democrática. Não há hierarquia clerical, e todas as decisões são tomadas coletivamente em reuniões silenciosas, onde qualquer um pode falar se sentir a inspiração divina. A vida comunitária é fortemente incentivada, assim como o trabalho voluntário e a promoção de causas sociais, como a paz, os direitos humanos e a justiça econômica.
Simplicidade e Ação Social
A simplicidade é um valor central para os Quakers, semelhante aos Amish, mas sem as mesmas restrições tecnológicas. Eles defendem um estilo de vida modesto, onde o consumo é reduzido ao essencial, e a preocupação com o próximo é constante. A vida coletiva dos Quakers não se limita à sua própria comunidade; eles estão sempre buscando maneiras de melhorar o mundo ao seu redor.
Historicamente, os Quakers estiveram à frente de movimentos abolicionistas, de reforma prisional e de direitos civis. Hoje, continuam atuando em questões como o combate à pobreza, a promoção da educação e o desenvolvimento sustentável. Será que a visão quaker sobre vida comunitária e justiça social não é um farol de esperança em um mundo muitas vezes tão dividido?
Sucesso e Felicidade na Comunidade Quaker
Para os Quakers, o sucesso está intrinsicamente ligado à criação de um mundo mais justo e pacífico. Ao se dedicarem ao serviço dos outros, encontram realização e propósito em suas vidas. A felicidade, para eles, vem da prática de valores que beneficiam a todos e da busca por um mundo melhor para as futuras gerações.
Comparando as Três Comunidades: Semelhanças e Diferenças
Embora Amish, MST e Quakers sejam grupos muito diferentes em termos de origem, crenças e contextos históricos, compartilham algumas características importantes. Todos eles acreditam no poder da comunidade, na necessidade de viver de forma simples e na importância de valores éticos que vão além da mera busca por lucro ou realização individual.
Foco no Coletivo
Todos os grupos colocam o bem-estar da comunidade acima das ambições individuais. Para os Amish, isso é manifestado pela dependência mútua dentro de suas fazendas. Para o MST, está na luta coletiva pela terra e pelos direitos humanos. Para os Quakers, a ênfase está no serviço à sociedade como um todo. Essa coletividade é um princípio que pode inspirar movimentos sociais contemporâneos que buscam um mundo mais justo e igualitário.
Resiliência Econômica e Valores Éticos
Embora com abordagens diferentes, todos os grupos conseguem ser economicamente sustentáveis, seja por meio da agricultura (Amish e MST) ou do trabalho social e educacional (Quakers). As práticas de trabalho ético, justiça social e respeito ao meio ambiente são comuns a todos eles, oferecendo um modelo alternativo às formas tradicionais de viver e produzir.
Conclusão
Em um mundo que muitas vezes valoriza a individualidade e o sucesso pessoal, os Amish, o MST e os Quakers nos lembram que a verdadeira felicidade e realização podem ser encontradas em um caminho coletivo. A vida comunitária, com seus desafios e recompensas, pode ser um antídoto contra o isolamento e a insatisfação que muitos sentem na sociedade moderna.
Esses grupos nos mostram que existem alternativas viáveis ao estilo de vida consumista e individualista, destacando a importância da solidariedade, da justiça social e da harmonia com a natureza. Ao olharmos para suas experiências e valores, somos convidados a refletir sobre como podemos cultivar comunidades mais justas, sustentáveis e felizes em nossas próprias vidas. Em última análise, a escolha de viver em comunidade não é apenas uma alternativa, mas uma possível resposta aos desafios que enfrentamos na sociedade contemporânea.
Chamada para Ação
Se você deseja se envolver em movimentos sociais ou em comunidades alternativas, considere a possibilidade de unir-se a grupos que promovem a solidariedade e a justiça social. Sua participação pode ser a chave para transformar não apenas a sua vida, mas também a de muitas outras pessoas. Que tal iniciar essa jornada hoje?
Por: Renato Mendes de Andrade – Jornalista – MTB 72.493/SP
Resolvi escrever esse texto em resposta ao Breno meu amigo muito querido. Ouvi um conselho a muitos anos atrás, que se eu chegar em algum lugar e me sentir mal deveria “Virar-me e sair imediatamente, nem diga sequer adeus”. Precisamos encontrar nosso lugar, e depois viver lá.