A Raiz do Racismo e a Ascensão da Extrema Direita

Última atualização em 4 de outubro de 2024 Jornalista RenatoGlobol

Uma Reflexão Sobre o Livro de Jesse Souza

Entenda como as questões raciais e sociais moldam a política brasileira

O racismo como base da extrema direita no Brasil.


Quando pensamos na política brasileira contemporânea, é impossível ignorar o papel central que o racismo e a desigualdade social desempenham. O livro de Jesse Souza “A Raiz do Racismo e a Ascensão da Extrema Direita” não apenas explora essa dinâmica, mas também nos força a questionar como chegamos até aqui. Afinal, a ascensão de líderes extremistas não acontece em um vácuo. É resultado de um sistema opressivo que desumaniza e marginaliza grandes parcelas da população.

A reflexão de Souza nos lança em uma viagem pela complexidade do racismo, da pobreza e da identidade no Brasil. Com sua abordagem incisiva e suas análises perspicazes, ele revela como a extrema direita se alimenta dessas questões para ganhar apoio popular. Ao longo deste artigo, vamos explorar os principais pontos abordados no livro e refletir sobre como podemos, juntos, desconstruir essas narrativas nocivas e construir um futuro mais igualitário.

Racismo - O pobre de direita


O Racismo no Brasil: Mais Que uma Questão de Cor

Desumanização e Estigmas

O racismo no Brasil é uma ferida profunda, um legado histórico que se manifesta de maneira insidiosa nas interações sociais e nas estruturas de poder. Segundo Souza, a desumanização do negro e dos mestiços é um dos pilares que sustentam o racismo estrutural. O autor argumenta que essa desumanização é frequentemente mascarada por discursos que transformam a população negra em “bandidos” ou “preguiçosos”. Mas, vamos parar e refletir: o que acontece quando uma sociedade decide que certos grupos são menos dignos de respeito?

Essa lógica de desumanização não é nova; ela está entranhada na cultura brasileira. É aquela velha narrativa que diz que a pobreza é fruto da falta de esforço individual, quando, na verdade, estamos diante de um sistema que privilegia uma minoria em detrimento da maioria. Isso leva à criminalização da pobreza e, consequentemente, à criminalização da negritude. Não podemos esquecer que o estigma que recai sobre os negros é, em grande parte, construído por uma sociedade que se recusa a olhar para suas próprias falhas e desigualdades.

A Construção de Inimigos Internos

Souza argumenta que essa desumanização transforma negros e mestiços em “inimigos internos” e legitima a violência policial contra eles. É uma linha de raciocínio que permite que a sociedade se sinta segura em sua ignorância, acreditando que o problema é o indivíduo e não a estrutura. Mas não seria mais sábio reconhecer que essa visão é uma simplificação perigosa?

A ideia de que certos grupos são uma “ameaça” à segurança pública alimenta o ciclo de violência e opressão. A violência policial, então, não é apenas uma questão de aplicar a lei, mas sim uma forma de controle social que reforça a ideia de que aqueles que são marginalizados merecem essa marginalização. Como podemos, como sociedade, quebrar esse ciclo? É hora de repensar nossas narrativas e construir uma nova realidade.


O Papel da Extrema Direita na Política Brasileira

A Ascensão de Bolsonaro

A ascensão de figuras como Jair Bolsonaro não pode ser analisada isoladamente. Souza destaca como a raiva e a frustração de setores da população, especialmente dos brancos pobres, encontraram eco nas promessas de Bolsonaro. Mas por que tantos brasileiros se identificam com um líder que, à primeira vista, parece estar tão distante de suas realidades?

A resposta é complexa, mas uma parte fundamental reside no ressentimento acumulado. Muitos brancos pobres sentem que suas dificuldades são resultado da “cota” dada a negros e outros grupos marginalizados. Essa percepção errônea cria uma necessidade de um “líder forte” que promete restaurar uma ordem que, na verdade, nunca existiu. Mas será que essa busca por um salvador não é, na verdade, uma fuga das verdadeiras causas de sua miséria?

A Construção de Identidades

Souza também aponta que essa dinâmica não é exclusiva dos brancos pobres. Muitos negros, especialmente aqueles que se identificam com o neopentecostalismo, acabam se aliando à extrema direita. Esse fenômeno é intrigante e revela como o racismo estrutural se entrelaça com questões de identidade e espiritualidade. O que leva um negro a votar em um líder que defende políticas que, em teoria, deveriam ser opressivas para sua própria comunidade?

A resposta pode estar na tentativa de embranquecimento, um processo onde a aceitação social é alcançada ao adotar os valores do opressor. É uma maneira de escapar da marginalização, mas que, ao mesmo tempo, perpetua um ciclo de opressão. Esse embranquecimento cultural, em vez de oferecer uma verdadeira solução, serve apenas para reforçar as divisões existentes. Mas não podemos nos esquecer de que essa luta pela aceitação muitas vezes ocorre à custa da própria identidade.


A Religião como Instrumento de Controle

Neopentecostalismo, racismo e Política

O neopentecostalismo é outro fator que merece atenção. Souza discute como essa vertente religiosa atrai muitos negros, que, em busca de um sentido para suas vidas, encontram consolo em promessas de prosperidade. Contudo, essa religiosidade pode, paradoxalmente, desviar a atenção dos problemas estruturais que afetam suas comunidades.

Quando o foco está em combater “forças malignas”, a crítica social e a análise das causas da pobreza e da desigualdade ficam em segundo plano. As questões que realmente importam, como a falta de acesso à saúde, educação e oportunidades, são ignoradas. Isso nos leva a uma pergunta crucial: até que ponto a fé deve se sobrepor à luta por justiça social?

A Indústria da Fé

Souza também levanta a questão da “indústria da fé”, onde líderes religiosos exploram as vulnerabilidades das pessoas para consolidar seu poder e influência. Essa dinâmica não apenas perpetua a desigualdade, mas também transforma a religiosidade em uma mercadoria. A pergunta que fica é: como podemos separar a espiritualidade genuína da manipulação?

É essencial que nós, como sociedade, discutamos essas questões de forma crítica. Precisamos entender que a luta pela igualdade não se limita a uma questão de raça, mas abrange uma série de fatores interligados que definem a vida de milhões de brasileiros.


Desconstruindo Narrativas: O Caminho para a Igualdade

A Necessidade de Diálogo sobre racismo e inclusão

A reflexão proposta por Souza nos convoca a um diálogo urgente e necessário. O que podemos fazer para desconstruir essas narrativas prejudiciais e promover um entendimento mais profundo da diversidade e inclusão? É vital que nos unamos para criar espaços de diálogo onde todas as vozes possam ser ouvidas e respeitadas. O que mais precisamos fazer para criar um ambiente onde todos se sintam valorizados?

O caminho para a igualdade passa pela educação e pela empatia. Precisamos trabalhar para desconstruir estereótipos e promover uma compreensão mais rica das complexidades que envolvem a identidade brasileira. É um desafio que demanda esforço coletivo, mas os frutos dessa luta são essenciais para a construção de uma sociedade mais justa.

Construindo Pontes

Além disso, é fundamental que façamos alianças entre diferentes grupos. A luta pela igualdade não deve ser uma competição entre os oprimidos, mas sim uma causa comum. Quando unimos nossas forças e vozes, conseguimos criar uma frente poderosa contra a opressão.

É hora de questionar o status quo e nos insubordinar às normas que perpetuam a desigualdade. Essa luta pela justiça social não é apenas uma questão moral, mas uma necessidade urgente. Não podemos nos calar diante da injustiça, e isso começa com a disposição de ouvir, aprender e agir.


Uma Nova Esperança

Reflexão Final

Em última análise, “A Raiz do Racismo e a Ascensão da Extrema Direita” de Jesse Souza nos oferece uma oportunidade única para refletir sobre nossas próprias crenças e ações. Ele nos desafia a olhar para a realidade que nos cerca e a questionar como podemos contribuir para a construção de um futuro mais igualitário.

Quando nos unimos na luta pela justiça social, não apenas nos tornamos agentes de mudança, mas também construímos um legado de esperança para as futuras gerações. É hora de nos levantarmos, lutarmos e nos recusarmos a aceitar a opressão como parte da nossa realidade.

Vamos juntos?

A luta pela igualdade e pela justiça social é uma tarefa contínua que exige coragem, determinação e solidariedade. Estamos prontos para esse desafio? A história do Brasil está sendo escrita agora, e cada um de nós tem um papel a desempenhar.


Referências:

 

 

Por: Renato Mendes de Andrade – Jornalista – MTB 72.493/SP

 

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