Última atualização em 10 de junho de 2025 Jornalista RenatoGlobol
É preciso coragem para não se curvar à barbárie

É preciso coragem. Coragem de verdade. Coragem para não se esconder atrás de neutralidades covardes ou da falsa segurança do silêncio. Coragem para dizer que há um problema grave diante de nós — e que ele veste terno, empunha bandeiras de mentira e sorri com frieza enquanto desmonta as estruturas da empatia, da democracia, da dignidade humana. Chegamos a um ponto em que não basta observar o mundo como se fôssemos meros espectadores. A omissão se tornou cumplicidade. A indiferença alimenta monstros. Precisamos nos levantar com firmeza e assumir uma postura resoluta, ética e solidária. Não podemos mais nos permitir seguir sob a sombra de lideranças autoritárias, que desdenham da vida, zombam da dor alheia e espalham o ódio como forma de poder. Devemos resistir. Devemos reagir. Devemos nos unir e afirmar com coragem: nós somos as ferramentas da mudança. Nós somos o espírito vivo do nosso tempo. E mesmo diante da impotência que nos invade — ao vermos memes implorando por soluções drásticas, por repetições trágicas da história — sabemos, no fundo, que nenhum evento isolado mudará por si só o curso da miséria, do racismo, da desigualdade, da violência ou do desprezo pelos vulneráveis. As estruturas são mais profundas. E se queremos transformá-las, precisamos construir com consciência. Afastar-nos do cinismo e abraçar uma nova sensibilidade.

O curso da história depende de nós

Quando vejo os comentários nas redes, quando ouço vozes como a da brasicana Juli ou de tantos pensadores sensíveis ao tempo que vivemos, percebo um cansaço que não é só político — é existencial. É o cansaço de uma humanidade que não se reconhece mais no espelho da sua própria criação. Que vê no outro uma ameaça, e não um irmão. Mas ainda há esperança. Não uma esperança ingênua, mas aquela que se enraíza na física quântica da existência — no mistério da fenda dupla, onde a realidade só se define quando é observada. Onde o futuro é incerto porque ainda pode ser moldado. É nessa incerteza que mora a brecha da transformação. É nessa rachadura do tempo que a luz entra. Mesmo os poderosos, os que se julgam invencíveis, podem cair. Já caíram antes. Já tropeçaram. Já foram engolidos pela mesma arrogância que hoje ostentam.
O grande curso e a escolha de seguir humanos
E então, olho para o cosmos — e lembro de Carl Sagan, que falava sobre “o grande curso”. O curso da Terra, que começou como uma bola de fogo, e se resfriou, e se tornou este planeta azul repleto de vida, beleza e fragilidade. Se esse planeta foi capaz de se transformar assim, por que nós não seríamos? Se há um “curso” que nos trouxe até aqui, talvez ele seja sábio o suficiente para seguir nos ensinando. Mas o curso da história humana não é automático. Ele depende de nós. Depende da nossa coragem em amar o outro. Depende da nossa decisão diária de não ceder à crueldade como método. Depende de nos mantermos humanos, ainda que tudo nos empurre à barbárie. Neste momento, enquanto o mundo parece à beira de repetir erros já vividos — erros que custaram caro, vidas, lágrimas, dignidade — precisamos lembrar que nada se repetirá se formos diferentes. O espírito do tempo clama por gente consciente. Por mãos firmes e corações abertos. Por vozes que cantem a verdade mesmo quando ela doer.

Conclusão: A esperança como ação cotidiana
A esperança verdadeira não é passiva. Ela é um gesto. Ela é ação. Ela é postura ética diante da história. E é por isso que, mesmo com medo, mesmo com frustração, continuamos. Plantamos pequenas sementes: uma palavra, um gesto solidário, uma denúncia, um poema, um texto como este. Sabendo que a força invisível da mudança pode estar em algo mínimo — como uma fenda aberta na estrutura do tempo. E nessa fenda, talvez, brote o futuro que ainda podemos escolher.