Última atualização em 20 de fevereiro de 2025 Jornalista RenatoGlobol
Desperdício de Comida no Brasil.
Ah, Brasil! Terra onde a fartura é tanta que até o lixo parece uma vitrine gastronômica. Onde o tomate não serve para fazer molho, mas para enfeitar aterros sanitários. E o feijão? Esse nobre grão, símbolo da nossa culinária e da nossa identidade, vira adubo antes mesmo de ser cozido. Tudo isso enquanto crianças passam fome embaixo das pontes que ligam um shopping ao outro. É como dizem: somos um país rico, sim. Rico em absurdo, em desigualdade e em desperdício de comida.
Agronegócio e o Desperdício: Jogar Fora é Melhor que Doar?
O agronegócio, esse colosso moderno que alimenta o mundo (mas não os brasileiros), tem suas regras sagradas. Quando o preço do alimento cai, o fazendeiro olha para aquele mar de verduras fresquinhas e decide: “Deixar que alguém coma isso seria dar esmola. Melhor jogar fora.” E lá se vão toneladas de alimentos direto para o lixão, enquanto o povo mendiga nas ruas.
E por que não doar? Ah, meu caro leitor, porque doar dá trabalho. Dá burocracia. E, convenhamos, quem vai querer entregar comida fresca para quem precisa quando pode vendê-la a preços inflacionados para quem já está com a barriga cheia? Afinal, o capitalismo não é só uma economia; é uma filosofia de vida. Uma filosofia que prioriza o lucro sobre a dignidade humana.
O Papel do Governo: Incompetência ou Conivência?
E nossos governantes? Esses heróis da administração pública que constroem estádios em tempo recorde para a Copa do Mundo, mas não conseguem organizar um programa decente de redistribuição de alimentos. Será incompetência? Ou será que há algo mais sinistro nessa história?
Imagine só: políticos que se gabam de cortar impostos para os ricos, mas que torcem o nariz quando alguém sugere usar esses mesmos recursos para combater a fome. Parece que, para eles, o problema não é a miséria, mas a visibilidade da miséria. Se o pobre ficasse quietinho no seu canto, sem incomodar quem está jantando, talvez fosse mais fácil ignorá-lo. Mas não: ele insiste em aparecer, pedindo restos de comida nos sinais de trânsito. Que falta de educação!
Punição para Quem Tem Fome?
E o pior de tudo: sabe o que acontece com quem tenta aproveitar essa comida que o sistema joga fora? O pobre que revira o lixo em busca de algo para comer é tratado como um criminoso. A polícia chega, dá uns cascudos e ainda solta aquela frase clássica: “Se quiser comer, vá trabalhar!” Como se o trabalho estivesse brotando em cada esquina, esperando apenas que o desempregado o colha.
Mas, claro, ninguém pergunta por que esse homem está catando comida. Ninguém quer saber que ele talvez tenha perdido o emprego, que sua família depende dele ou que simplesmente não aguenta mais ver seus filhos dormindo com fome. Não, o importante é manter as aparências. O importante é garantir que o lixo continue sendo lixo e que o pobre continue sendo pobre.
A Escolha é Nossa: Toleramos Isso ou Mudamos?
Mas calma, nem tudo está perdido. Este país ainda pode mudar. Sim, pode! Basta que a gente decida que não vai mais aceitar esse teatro de horrores. Quer um exemplo prático? Na próxima eleição, pare de votar em candidatos bonitões que prometem mundos e fundos durante a campanha, mas que, assim que são eleitos, esquecem até o próprio nome. Vote em quem defende gente, não números.
E lembre-se: política começa na sua cidade. Prefeitos, vereadores, secretários municipais – esses são os caras que podem criar programas para evitar o desperdício de alimentos. São eles que podem transformar mercados municipais em centros de distribuição de comida. Então, antes de escolher seu candidato, pergunte: ele está preocupado com quem come ou com quem conta dinheiro?
Porque, No Final Das Contas…
O Brasil nunca foi um país pobre. Pobreza aqui não é destino; é escolha. Escolha de quem prefere encher os cofres dos ricos em vez de encher os pratos dos famintos. Escolha de quem acha que jogar comida fora é mais fácil do que resolver o problema da fome.
Então, meu amigo, a pergunta que fica é: você vai continuar engolindo isso calado? Vai aceitar que toneladas de comida apodreçam enquanto milhões de pessoas morrem de inanição? Ou vai levantar a voz e exigir que esse absurdo acabe?
Porque, no fim das contas, o problema do Brasil nunca foi falta de comida. Foi sempre excesso de egoísmo.
E, como diria o velho deitado: “Antes um prato na mesa do pobre do que uma tonelada no lixo do rico.”