Última atualização em 29 de novembro de 2024 Jornalista RenatoGlobol
Tragédia de Mariana: A Decisão Judicial que Reforça o Racismo Estrutural e a Impunidade das Corporações
Sete anos após o colapso da barragem de Fundão, a justiça brasileira emitiu uma decisão que desafia a compreensão: a absolvição das empresas responsáveis por uma das piores catástrofes ambientais e humanas do país. Não foi apenas a lama que invadiu e destruiu ecossistemas e vidas; foi também a ação de uma elite branca, protegida por um sistema jurídico racista que sempre parece estar ao lado dos poderosos. Agora, com essa decisão, a pergunta persiste: quem realmente paga pelo sofrimento das vítimas? A resposta parece ser a mesma de sempre: ninguém.
A Decisão Surpreendente
No último dia 14, a juíza Patrícia Alencar Teixeira de Carvalho proferiu sua decisão, afirmando que não havia evidências suficientes para responsabilizar criminalmente as empresas Vale, Samarco, BHP ou qualquer outro envolvido no desastre. A alegação de falta de provas soa como um insulto para as famílias que perderam entes queridos, casas e toda sua dignidade. Mais de 60 milhões de metros cúbicos de rejeitos devastaram cidades, rios e florestas, mas o tribunal parece ter priorizado os interesses financeiros das corporações em vez de ouvir os gritos das vítimas.
A Influência do Racismo Estrutural
As tragédias no Brasil sempre parecem atingir com mais força as populações mais vulneráveis. Em Mariana, o cenário não foi diferente. Quilombolas, indígenas e trabalhadores rurais foram os mais afetados pela devastação. Essa desigualdade no impacto da tragédia revela o racismo estrutural que permeia a sociedade brasileira. Quando se trata de garantir justiça, essas vidas são menos valorizadas, e o sistema judicial, ao absolver os responsáveis, reforça essa disparidade.
A sentença de absolvição reflete a triste realidade de que, no Brasil, o lucro parece sempre ter mais valor do que as vidas humanas, especialmente quando essas vidas pertencem a pessoas negras ou pobres. Este padrão remonta aos tempos da escravidão, quando os trabalhadores eram sacrificados em prol do enriquecimento de poucos.
A Justiça que Passa o Pano para as Corporações
A juíza justificou sua decisão alegando a inexistência de “nexo causal” entre a negligência das empresas e os danos causados pela tragédia. Mas será que a lama precisaria desenhar uma linha direta? As empresas tinham conhecimento dos riscos. Relatórios prévios já apontavam falhas estruturais e nada foi feito para evitar a tragédia. A negligência aqui não é acidental, é intencional.
Enquanto isso, as famílias das vítimas continuam à margem de uma justiça que favorece corporações bilionárias. A sensação de impunidade é indignante, especialmente diante de uma catástrofe tão evidente.
A Luta por Justiça Continua
O Ministério Público Federal anunciou que recorrerá da decisão, e isso é um alívio. Porém, é importante destacar o desgaste de um processo judicial que se arrasta por anos, onde crimes prescrevem e a punição se torna uma raridade. Isso demonstra claramente que a justiça brasileira não está a favor das pessoas comuns. Para as comunidades atingidas, essa realidade é um retrato diário. A busca por reparação é árdua, mas continua sendo uma missão imprescindível.
A sociedade civil precisa continuar pressionando, denunciando e lutando por mudanças. A tragédia de Mariana não pode ser um episódio isolado ou uma mancha triste na história do Brasil. Ela deve ser o ponto de partida para uma mudança verdadeira.
Conclusão: A Injustiça Não Pode Ser Aceita
Não podemos aceitar que as vítimas de Mariana sejam tratadas como números, nem permitir que as empresas responsáveis escapem de suas responsabilidades. A decisão judicial reflete um sistema falido, onde o racismo estrutural e a impunidade corporativa se entrelaçam.
A lama que desceu da barragem continua a manchar rios e terras, mas também arranha a credibilidade da justiça no Brasil. Enquanto os culpados continuam livres, as vítimas esperam por justiça. Não podemos desistir: justiça para Mariana, justiça para as vítimas, justiça para o Brasil.